Participar de um evento do mercado de seguros com uma startup que tem como objetivo reavivar o mutualismo provendo uma plataforma em Blockchain para tornar o autoseguro uma abordagem viável em escala global foi muito bacana, porém bastante desafiador. Estamos falando do primeiro evento Insurtech no Brasil que aconteceu no dia 18 de agosto de 2017, tendo a presença de seguradoras, resseguradoras, corretoras, órgãos reguladores, fundos de corporate venture, e claro, empreendedores como nós sonhando em mudar o mundo.

Da esquerda para a direita: Fernando Steler (Direct.One), Fabricio Matos (Mutual.Life), Safiri Felix (Consensys).
O evento foi fantástico, especialmente pelo networking e pelo potencial de parcerias. A palestra de abertura com o Guga Stocco já deu o tom: Inteligência Artificial, IoT, Blockchain, e outras tecnologias estão aí e vieram pra ficar, e o mercado de seguros não vai ficar à margem dessa revolução digital. E assim, começando com palestras e painéis sobre inovações incrementais, o evento avançou num tom crescente até chegar na parte final com as propostas mais disruptivas envolvendo Inteligência Artificial e encerrando com um painel do qual fizemos parte para falarmos sobre Blockchain.
Na primeira pergunta direcionada a mim, vindo do próprio painelista, emerge a questão que parece ser a grande questões de todos por lá: e a regulação, como fica? Essa parece ser na percepção da maioria ser o maior entrave à inovação. Contudo na própria fala do Hugo Mentzingen representando a SUSEP (principal órgão regulador do setor no Brasil) em um painel anterior, fica claro que o objetivo do regulador é prover segurança para o consumidor e para o mercado como um todo, mas que a instituição entende que a inovação tecnológica tem muito a agregar, e que ela é a favor da inovação. Não fica obviamente claro qual é o caminho para se conduzir essa inovação, mas entendemos que não fica claro porque simplesmente não existe um caminho pavimentado. Ora, se já existisse não seria inovação. Não dá pra regular algo que não existe. Mas dá para acompanhar de perto, estabelecer diretrizes mínimas para dar a segurança necessária ao processo de experimentação e validação das tecnologias, e nisso que apostamos, pois nós, na Mutual.Life, não só entendemos as preocupações dos órgãos reguladores, como compartilhamos das mesmas preocupações.
Nosso objetivo é aproveitar possibilidades antes impensáveis, mas agora possíveis graças a tecnologias emergentes como Blockchain e AI. E assim como a Internet permitiu novos modelos de comercialização de notícias, de filmes, de música, e de muitos outros conteúdos, essas novas tecnologias tornam possíveis novas formas de custodiar valores, de definir e de executar obrigações. Nossa missão é gerar valor. Queremos levar mais segurança e estabilidade econômica à milhões de pessoas ao redor do mundo, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde a grande maioria da população é vulnerável a acidentes e outras formas de prejuízos, principalmente por dois motivos: ou porque os produtos de seguro existentes são financeiramente inviáveis ou proibitivas, ou porque não existem opções adequadas as necessidades específicas dessas pessoas.
Obviamente para nós não faz sentido pensarmos em produtos que não ofereçam a segurança necessária para os consumidores individualmente, menos ainda para a sociedade como um todo. Por isso temos feito o possível para conduzir toda nossa pesquisa e desenvolvimento da forma mais prudente e transparente possível. Além disso, temos buscado referências de como os órgãos reguladores em países desenvolvidos tem atuado no que diz respeito à regulação de grupos de mútuo, como o Solvency II do Parlamento Europeu, pois apesar de não sermos uma associação de mútuo, grupos de ajuda mútua serão formados em nossa plataforma e regidos pela nossa tecnologia, que graças as cryptomoedas e aos smart contracts tem a possibilidade de garantir em seu próprio protocolo o equivalente de muitas das exigências de compliance.
Por isso e muito mais, vemos uma grande oportunidade no uso de tecnologias como blockchain e smart contracts, que permitem não são operações mais transparentes e auditáveis, mas a automação de regras auto-exequíveis na própria gestão dos recursos na forma de cryptomoedas. É claro que existem muitos desafios, especialmente por se tratar de uma tema novo e ainda muito superficialmente compreendido. Mais uma vez, nos colocamos à disposição para ajudar nesse processo de entendimento, para que os riscos efetivamentes pertinentes a essa nova forma de arranjo sejam efetivamente entendidos e os próximos passos dos órgãos reguladores sejam tomados de forma bem fundamentada, visando sempre o bem comum e evitando embaraços e entraves para o desenvolvimento de tecnologias como a da Mutual.Life, que têm o potencial de ter um impacto importante na popularização de uma cultura de seguro em todo mundo em desenvolvimento através da união do mutualismo com a gestão de risco moderna e do resseguro.
Entendemos que essa questão regulatória, embora muito importante, em geral se baseia em olhar para trás, no que a experiência passada nos ensinou, visando mitigar tais riscos. Nossa contribuição ao desenvolvimento através da inovação por outro lado se baseia em olharmos para a frente, para o que a tecnologia moderna nos oferece de melhoria efetiva para todos os envolvidos. Nesse sentido esperamos que o debate cresça, e que as empresas e demais entidades do segmento se despertem para todo esse potencial.
Para ilustrar, segue um quadro extraído de um artigo de junho de 2016 que resume bem o potencial do uso do Blockchain no mercado de seguros. Cada item pontuado no quadro abaixo tem um potencial de criação de valor, e a Mutual.Life está atuando em apenas alguns deles neste momento. Alguns oferecem melhorias incrementais, já outros tem um potencial mais disruptivo. Seja como for, não nos parece algo que possa ser responsavelmente ignorado ou encarado com ceticismo ou conservadorismo, pois de um jeito ou de outro essas inovações vão chegar, e a forma mais segura de absorvermos essas inovações é nos engajando nesse processo de transformação.

Fonte: Willis Towers Watson
Em resumo, saímos do Insurtech Brasil 2017 ainda mais confiantes de que estamos no caminho certo. De que os desafios são enormes, mas o potencial de criação de valor é infinitamente maior, e que esse é um desafio que vale a pena ser encarado. Nos próximas edições do evento certamente teremos avanços para compartilhar.
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