Estamos há alguns meses rodando um piloto de proteção de smartphones com nossos early adopters, utilizando apenas Excel, WhatsApp, SurveyMonkey e PicPay, e sempre envolvendo os usuários em discussões no nosso grupo "co-criação" para entendermos o que realmente vai proporcionar a melhor experiência. Hoje podemos dizer que adiar o desenvolvimento do nosso app foi a melhor decisão que tomamos.
Porém agora chegou a hora de iniciarmos essa parte do projeto, mas para mostrarmos como essa decisão foi importante, queremos mostrar como nossa visão original mudou completamente após o piloto.
Hoje temos muito uma visão infinitamente superior (e validada na prática) das funcionalidades que realmente agregam valor para nossos usuários, mas quando olhamos para trás, chega a ser doloroso perceber como tínhamos o projeto original do app orbitava a tecnologia blockchain, ao invés da experiência de proteção em si. É estranho porque temos uma excelente experiência de desenvolvimento de apps, UX, e a coisa toda, mas naquela altura estávamos muito focados na beleza da tecnologia blockchain, e na necessidade de resolver problemas específicos do mundo cryptocurrency, como gerenciamento de chaves privadas, geração de seeds robustos (realmente aleatórios) para carteiras hierárquicas, enquanto que na verdade parte disso não era tão prioritário, sem falar que uma tecnologia ideal deveria ser invisível.

Mas fizemos a escolha certa, e pudemos aprender muito sem gastar dinheiro e tempo programando um app que não daria muito certo. Isso não significa que hoje todas os desafios para um blockchain "invisível" estejam resolvidos, mas muitas dessas questões simplesmente ainda não precisam ser resolvidas agora, e passaram a fazer parte de um roadmap em constante evolução. Além disso, à medida que focamos no que agrega mais valor para o usuário, nas validações de negócio, no desenvolvimento de parcerias e no crescimento da base de early adopters, a tecnologia Blockchain como um todo está amadurecido, integração com os recursos de cloud computing estão aparecendo, e parte dos problemas tecnológicos estão sendo resolvidos, nos permitindo focar mais no nosso core business.
Mas histórias e lições à parte, atualmente nossos usuários estão sentindo falta de uma ferramenta que não seja tão improvisada e que inspire mais confiança. Em uma pesquisa recente como eles, o principal motivo para eles não convidarem muitos dos parentes, colegas de trabalho e outros amigos para a plataforma é que eles não têm o mesmo perfil early adopter deles, e sem um app apropriado eles não se sentem confortáveis em fazê-lo.
Logo, por esse e outros motivos, decidimos que chegou a hora de darmos mais um passo e desenvolvermos nosso primeira versão de app, algo que seja MVP realmente viável. Porém decidimos ainda assim desenvolvê-lo de forma incremental, colocando cada nova feature em produção com o grupo piloto assim que ela estiver pronta. Vai ser agile na veia!
Como somos "bootstrap", ou seja, uma empresa nova que ainda não recebeu nenhum tipo de investimento, o dinheiro obviamente é bem curto. E embora desejemos muito poder nos dedicar 100% ao negócio, temos contas pra pagar e precisamos por enquanto continuar conciliando o trabalho na mutual.life com as outras atividades que nos gerem renda. Ainda bem que somos todos consultores com horário bastante flexível.
Como será então? Decidimos assumir o desenvolvimento das partes mais complexas do backend, para as quais a nossa experiência é fundamental, porém buscamos uma alternativa mais economicamente viável para o desenvolvimento do app em si (front-end e APIs). E a melhor alternativa que encontramos foi nos aproximarmos do Instituto Federal do Espírito Santo, mais especificamente, do laboratório LEDs que tem como objetivo proporcionar uma experiência prática para os alunos e ajudá-los a se conectar ao mercado de trabalho. Depois de muita conversa, estamos agora finalizando os trâmites legais para a celebração de um convênio ECTI via fundação FACTO para podermos viabilizar a parceria, que permitirá alocarmos algumas bolsas de estudo para alunos de TI, e dando algumas contrapartidas como capacitações tecnológicas e metodológicas, conseguiremos ter uma pequena equipe funcionando nas dependências do laboratório LEDs no IFES, sob a supervisão dos professores.
É claro que gostaríamos de poder ter recursos para contratar profissionais de mercado e podermos desenvolver toda a plataforma numa velocidade muito maior, mas vemos também outras vantagens neste modelo, especialmente na possibilidade de capacitarmos de forma mais barata os alunos para depois contratá-los, além da possibilidade de uma parceria de mais longo prazo com IFES para o desenvolvimento de outros projetos de pesquisa.
A verdade é que, como disse Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, "empreender é se jogar de um precipício e construir um avião durante a queda". Pois bem, nos jogamos! Agora precisamos construir um avião com o que temos, de um jeito ou de outro.
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